sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

texto pro boca do inferno.... foi mal

A poesia contemporânea parece-nos quase sempre suspeita, sem o mesmo valor dos clássicos que estamos acostumados a ler nas aulas de literatura. Porém cada obra e cada autor tem seu contexto, comparações só podem trazer decepções. Pensando nesta poesia que, segundo muitas vozes está em crise, é necessário um olhar mais apurado para achar alguma que prometa algo interessante. A crise parece ir no sentido da busca de um lugar de enunciação, pois, como vemos pelas ruas de nossa cidade, poetas não faltam, poesia há. A qualidade dela é outra questão.
Este lugar novo é necessário, pois nossa poesia atual tem um ar cansado, por vezes muito meta-poético por outras carregadas sem necessidade dum experimentalismo que não faz sentido. Sentido fazia quando haviam bandeiras para serem levantadas, talvez hoje elas não existam como projeto estético ou social coletivo. São na verdade individuais, e, portanto, não dignas de serem chamadas de bandeiras.
Tudo isto para falar do ultimo livro de nosso colega de curso Jeferson Alves Bandeira: Ironia Fugaz. Este seu quarto livro é uma mostra da evolução poética do autor, que em essência continua sendo a mesma linha poética três anteriores, só que desta vez a materialidade das palavras, seu som, recebe um papel de protagonista.
Assim, o trabalho de versificação é interessante e em certa medida consistente no livro todo. O “eu” poético se confunde profundamente com a voz do autor, até o ponto em que são transparentes suas leituras dos poetas canônicos: Bandeira, Drumonnd, Gabriela Mistral e em medida mais leve Neruda.
Para quem já leu os livros anteriores, se surpreenderá pela diminuição do caráter lírico, que se derramava pelas paginas uma retórica muitas vezes vazia, mas claro, neste novo trabalho não abandona totalmente lirismo, só toma um ponto de vista distinto. Nessa procura por um lugar de fala, o “eu” lírico consegue mais força, mais segurança no trato verbal e como grande temática do livro poderíamos resumir como um embate desse “eu” e a maneira com que o mundo é olhado, não exatamente com o mundo: “eu” contra “eu”. Isto porque cada situação vivida e retratada nos poemas passa pelo filtro desse olhar individual, carregado de ironia e resignação, por isso fugaz.
Sua poesia é baseada no verbo, é tem a cara da poesia feita por necessidade interior de expressar aquilo que não se diz de outra forma. Uma leitura interessante para observar o caminho poético e a evolução de olhares, mas podem esperar, daí vem mais...

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