domingo, 22 de abril de 2007

O Sátiro se retirou para um canto escuro e chorou... mas não chora sozinho

Só um bom leitor pode ser um bom escritor. Essa coisa de dom não está com nada, a musa só existe para soprar no ouvido do poeta algumas dicas, nada mais. O resto é com ele mesmo. A musa não se incomoda em procurar palavras certas nem em fazer caber em métrica qualquer idéia, nem em teoria literária, nem muito menos no estado da poesia atual.
Se o bom leitor é um bom poeta, Márcio Davie Claudino é o melhor exemplo disso. Seu livro O Sátiro se retirou para um canto escuro e chorou reúne trabalhos de longos anos labuta poeticamente intelectual. Sem esquecer a poesia, inflama seus textos com uma constelação de referencias literárias que exigem um leitor ávido, atento e experiente. Se não é esse o caso(como de quem os fala/escreve), ainda assim guarda para os mais inexperientes um universo de emoções e poesia do mais alto lirismo, expostos numa linguagem forte, convincente, na qual o eu poético nos faz acreditar, sem lugar a duvidas, que a poesia não precisa deixar de tratar sobre o amor para ser moderna.
Il Fuat être absolument moderne, nos dizia Rimbaud em Une saison em efer, em forma de despedida, desacreditanto na palavra poética... . Esse sempre foi e talvez vai ser um dilema, seja qual for a leitura dessa frase, a poesia no seu estado de outra voz como nos explica o poeta-crítico mexicano Octavio Paz, tenta os mais diversos caminhos para expressar a condição humana, que é o que nos une, independente de situação social, financeira, opção sexual, estado civil ou seja lá o que for. Sempre é bom, porém, lembrar do seu caráter periférico: quem acredita em poesia? Só aqueles que com uma teimosa constante vontade que ela seja de fato uma saída para o descaso geral do mundo com a arte.
É bom ler em tempos pós-modernos, apesar do furado do conceito (é, demorou tanto pra chegar na modernidade que não sei porque se insiste tanto em sair. Não é necessária uma quebra grande, mudanças de paradigmas, outro renascimento, ou seja outra idade media seguida de um renascimento, ou uma nova revolução industrial para que a gente saia da modernidade???????. Eu gosto muito dela, tempos muito loucos: capitalismo selvagem, verdades absolutamente mortas, neobarroco, neocapitalismo, neodocialismo, neomarxismo, neoestruturalismo, e o neo do matrix), e confirmar que a poesia ainda tem a capacidade de guardar aquilo pelo que é conhecida: emoções.
Vale a pena mesmo ler o livro, desde a capa até a contracapa, passando pelo índice e os agradecimentos, o poeta mostra como o trabalho poético requer que cada detalhe seja considerado. Cada poema uma surpresa. Alguns que chocam, outros que desilusionam : mas o bom escritor é assim, que o diga Borges.